segunda-feira, 3 de maio de 2010

"Candidatura de Alegre reconfigura mapa político" - Louçã ao JN

"O que o PS decida não tem nenhuma influência na definição do candidato perante o país"

ALEXANDRA MARQUES E PAULO MARTINS

Parece que o BE se "atrelou" ao milhão de votos que Manuel Alegre teve nas presidenciais…

Não. Aqui não há uma coligação. O candidato não depende do BE. Está acima do BE, como do PS ou do PCP. É uma disputa política; não procuramos dividendos. A coragem, na política, é escolher os campos em que têm de fazer-se as demarcações. Isso significa diálogos que não são novos. A eleição presidencial será clarificadora, porque Portugal vive um processo de degradação aceleradado. Exemplos: os três milhões de Mexia, os 18 milhões de Rendeiro, que quer que lhe paguem os impostos. São sintomas da rampa inclinada em que está a economia nacional.

Como se contraria?

É preciso criar uma alternativa. Não estamos só numa política de resistência. O protesto é fraco; a alternativa tem de ser forte.

Por que razão o BE se apressou a apoiar Manuel Alegre? Ficou a ideia de que era boa oportunidade para causar incómodo ao PS.

Não nos apressámos. Tomamos decisões no tempo em que entendemos, não ficamos à espera de outros.
O facto político era a afirmação de uma candidatura que pudesse disputar a Cavaco Silva a eleição e, ao mesmo tempo, cumprir a ambição de apresentar um programa para o país contra a fractura social. A isso respondeu Manuel Alegre. E nós respondemos ao desafio que colocou à política portuguesa.

O apoio a Alegre não foi consensual no interior do BE. Como se ultrapassaram as divergências?

Na Convenção, duas listas minoritárias, com posições alternativas, pronunciaram -se amplamente. Representavam cerca de 20% das posições do BE. É um debate natural sobre estratégias, mas o BE decidiu olhando para a convergência política que mudou a face do diálogo à Esquerda, protagonizado por Manuel Alegre na Aula Magna, no Trindade, no voto contra o Código de Trabalho, para um sentimento de mudança que é uma reconfiguração do mapa político.

Jerónimo de Sousa, em entrevista ao JN, disse que dos encontros que citou o PCP foi excluído.

Não há nenhuma exclusão. Esses encontros foram abertos a qualquer pessoa; não foram entre partidos. Não era essa a configuração e seria errado que fosse, porque seria redutora. A Esquerda tem partidos com grande importância - o PCP, o BE. Há muita gente que no PS quer protagonizar esses debates, mas há sobretudo a Esquerda social - sindicalistas (esteve lá Carvalho da Silva), independentes. Uma visão estreita da política, que a reduza ao entendimento entre dois partidos, não vê o quadro geral da mobilização necessária de forças independentes e de pessoas como Manuel Alegre, que representam a contestação à política e económica e social do Governo.

Poderemos ter o BE ao lado do PS, a apoiar o mesmo candidato?

Não, porque uma candidatura presidencial é suprapartidária. Não sei o que o PS fará, só o que até agora se tem ouvido: Mário Soares, Vitalino Canas e secretários de Estado como Valter Lemos a tentarem torpedear a candidatura. O que o PS decida não tem nenhuma influência na definição do candidato perante o país. As candidaturas presidenciais definem-se pelo programa, o seu valor e a figura que os representa. Se perguntar a um cidadão de Esquerda se há alguém capaz de desafiar Cavaco Silva - objectivo essencial para combater a crise e a decadência deste regime -, em quem confiar para responder à fractura social e económica, dirá que é Alegre.

Dando como adquirido que Cavaco Silva se recandidata e admitindo que o PS apoia Alegre, como o PCP apresenta candidato próprio, isso não fragilizará a Esquerda?

Não. A decisão é do PCP. Mas a convergência de votos que à Esquerda possa determinar a derrota de Cavaco Silva não é ameaçada por uma candidatura do PCP. O PCP deixou muito claro que os seus votos não falham no momento crucial de uma decisão.

1 comentário:

josé manuel faria disse...

Se os votos do PCP não falham na 2ª volta em Alegre, porque falhariam os do BE, caso apresentassem por exemplo candidato próprio, como em 2006?

José Manuel Faria, nº 364, Vizela.