domingo, 18 de abril de 2010

A reunião da Mesa Nacional e a Convenção

João Delgado - Braga

Decidi não comparecer à reunião da Mesa Nacional (MN) que se realizou ontem, cuja ordem de trabalhos anunciava debater a Convenção extraordinária.
Como subscritor da Convenção, sinto-me obrigado a partilhar também com quem se juntou a esta subscrição as razões da minha ausência:

“Aos membros da Mesa Nacional

Camaradas, não comparecerei na próxima reunião da MN, o que me leva a partilhar convosco estes breves apontamentos:

1 – Considero desnecessária a minha presença num órgão que é cada vez mais um palco comicieiro, onde a discussão política foi substituída pela insídia e, não raro, pelo insulto. Infelizmente, em lugar do debate sobre “que fazer?”, na MN é-nos explicado o que vamos fazer.

2 – Sobre esta reunião específica, depois de ler a proposta de resolução política e de assistir à entrevista do Francisco Louçã na RTP, tomei a decisão de não comparecer, por me faltar tempo e paciência para o previsível ritual.
Ouvir o camarada coordenador na televisão a falar em “facções” não augura nada de bom para a reunião, que deverá até incluir um número especial que será a re-divulgação do disparatado apoio de um qualquer colectivo brasileiro à Convenção extraordinária, como prova de que tudo não passa, mais uma vez, de temível maquinação do falecido Moreno.

3 – A resolução política é auto-explicativa. Pela primeira vez reconhece-se que, ao contrário do que foi propalado nos últimos meses, a Convenção não decidiu qualquer apoio a Manuel Alegre. Claro que a Comissão Política reconhece isto depois de termos publicado no nosso blog declarações do FL que se julgavam esquecidas.
É pena que a resolução não inclua também a já famosa intervenção de encerramento do camarada Luís Fazenda: “Os camaradas da Moção C inventaram até essa prodigiosa fantasia de que iríamos eventualmente ter um candidato às presidenciais em comum com o governo. É caso para dizer que só contaram para vocês”. Pois foi, nós é que somos os tontos do costume.

Confesso que não percebo para onde vai o Bloco, mas estou certo de que não vou por esse caminho. Ninguém me conseguirá convencer que se luta contra Sócrates ao lado de alguém que apoiou Sócrates activamente, e que ainda faz questão de frisar dia sim dia não qual é a sua família política e o seu partido.

Até breve,
João Delgado”

Posto isto, e não tendo ainda falado com qualquer camarada presente na reunião da MN (e a todos saúdo pelo “tempo e paciência” que para tal tiveram), encontro-me na situação da generalidade da militância, isto é, o conhecimento que tenho do que se passou ontem resulta dos relatos da comunicação social, incluindo da comunicação social do partido.

E o que esses relatos resumem é uma reunião da MN em que a maioria derrotou (com apenas oito votos a favor) a realização da Convenção extraordinária (CE). Este vem sendo o mantra repetido ad nauseum pela direcção: a Convenção não se vai realizar porque nós somos a maioria e não o queremos.

É então este o ponto principal destas linhas: sublinhar que a convocação da CE não carece de “autorização” prévia, ela é um imperativo estatutário desde que 10% dos aderentes assim o desejem. Acresce que não existe qualquer prazo para a recolha das assinaturas, pelo que este processo, que vai decorrendo de forma sustentada, não pára apenas porque a MN não gosta da ideia.

Sabendo nós que falta um dado fundamental na equação, a posição do PS e de que forma essa posição influenciará as candidaturas no terreno – não apenas a de Alegre, mas também a de Nobre, e a do PCP – não poderíamos correr o risco de seguir o mau exemplo da direcção e precipitamo-nos agora em decretar o fim do pedido de subscrição da CE.

Por mim cá estarei , com serenidade e determinação em devolver a palavra aos aderentes.

1 comentário:

Anónimo disse...

Num momento em que urge tomar iniciativas contra o cada vez mais duro ataque do capitalismo, não sei como dizer às pessoas que o Bloco é alternativa, que o Bloco tem um projecto, que o Bloco quer o um socialismo solidário. Como eu , vejo que muitos militantes do BE não sabem muito bem o que fazer. Pessoalmente, espero que o desfecho desta situação não seja saída do partido (sim do Partido porque essa estória dos Movimentos Sociais já lá foi!).

um abraço a todos que lutam por um Bloco fiel à luta socialista.

Miguel Ferreira