quarta-feira, 17 de março de 2010

A palavra dos militantes - Uma voz contra a Convenção

1-Se se reparar pelo texto da petição não se sugere nenhuma alternativa à decisão tomada... Há uns tempos correu uma petição no Facebook promovida pelas mesmas pessoas desta, que sugeria o avanço e apoio do BE a uma candidatura anti-capitalista, leia-se PCP + BE, que para além de irrealizável, seria desnecessária estando no terreno a candidatura de M. Alegre, que embora ainda militante do PS (social-democrata), já demonstrou independência suficiente e, portanto, cobre com maior ou menor dificuldade esse campo político... Aparentemente com a candidatura de F. Nobre algo mudou "nesse" campo político. Alguém ideologicamente consistente poderá considerar F. Nobre, não obstante a sua dimensão e trabalho cívico, um anti-capitalista? Poderá a candidatura dele confundir os peticionários da candidatura anti-capitalista? A mim não me suscita dúvidas. É por estes argumentos que se percebe que o propósito desta petição, mais do que discutir seja a decisão em si, seja o seu procedimento, é o de desgastar a Comissão Política... Existirá assim tanta divergência interna quanto ao apoio a esta candidatura que justifique esse desgaste? Por aqui se vê que esta convenção não faria sentido.

2-É verdade que a decisão da Comissão Política foi algo precipitada. Mas eu pergunto: depois da Convenção, depois das nossas iniciativas conjuntas, alguém dentro do BE tinha dúvidas do nosso apoio a M. Alegre? E nem se pode alegar que pelo facto de M. Alegre ter apoiado J. Sócrates nas legislativas muda essa convicção. Se é verdade que num comício declarou esse apoio envergonhado, também é verdade que se recusou a integrar a lista de candidatos e segundo consta o cargo de presidente da AR... Embora algo precipitada a decisão da Comissão Política e de F. Louçã, também se pode explicar por um questão táctica e estratégica. O apoio imediato do BE a M. Alegre pressionou de tal maneira o PS que exclui qualquer possibilidade da direcção do PS apoiar outro candidato. E essa possibilidade era bem grande pelo menos desde Dezembro, desde a realização de um evento na Aula Magna, promovido pela família Soares, cujos fundos reverteram para a AMI... Talvez M. Alegre tenha avançado tão depressa pelo conhecimento destes jogos de bastidores. Talvez o apoio do BE tenha sido o sustentáculo da candidatura de M. Alegre. Em conclusão, embora com alguns erros de procedimento, a decisão e o timing de apoio a M. Alegre podem explicar-se por esses motivos... Uma convenção agora serviria apenas para dar notabilidade (parece que já conseguiram o seu cantinho no SOL e no Público) a dirigentes do BE dessas correntes de opinião (legítimo), sem que motivo aparente exista, e não acrescentaria nada ao debate.

3- Um terceiro ponto importante sobre a decisão da Comissão Política é a história das decisões anteriores sobre esta matéria... Foi necessária a marcação de uma convenção extraordinária para decidir as candidaturas de 2001 e 2006? Sim é verdade tanto em 2001 com F. Rosas, como em 2006 com F. Louçã, estávamos perante militantes destacados do BE... Mas como seria o teor da tese aprovada em Convenção sobre esta matéria? Não seria ele igualmente abstracto? É ou não verdade que tanto as candidaturas de 2001 como a 2006 tiveram com propósito fundamental a afirmação nacional e social do BE enquanto movimento político de alternativa à esquerda? Quem pensa de forma diferente, consegue explicar o porquê do apoio em 1996 a J. Sampaio por algumas, se não todas, as correntes de opinião que deram origem ao BE, e a candidatura autónoma em 2001 de F. Rosas? Algo muda por se tratar de um candidato de outro partido? Sim muda. Mas a forma de fazer política do BE não foi sempre a de construir maiorias sociais que fossem capazes de desencadear transformações sociais relevantes? Sim, M. Alegre é do PS. Mas será o candidato oficial do governo? Não foi ele o deputado pelo PS que não temeu romper e enfrentar o governo conjuntamente com a restante esquerda parlamentar? Tive muitas dúvidas em 2006 com a candidatura de M. Alegre. Continua a não ser o candidato perfeito para mim. Mas a perfeição em política e na vida...

Aquilo que me parece relevante destacar é que a decisão foi tomada por quem tinha legitimidade para tal: a Mesa Nacional. Essa decisão enquadra-se perfeitamente com o texto da tese aprovada em Convenção. Os subscritores desta petição querem o quê? Continuar a discussão? E já agora terão essas duas correntes de opinião um candidato próprio e alternativo? Quem? Há divergências entre ambas quanto a esse tema? Cada um apresentará um candidato único?!

Hugo Ferreira - 6444 - Coimbra

8 comentários:

josé manuel faria disse...

"O apoio imediato do BE a M. Alegre pressionou de tal maneira o PS que exclui qualquer possibilidade da direcção do PS apoiar outro candidato. E essa possibilidade era bem grande pelo menos desde Dezembro, desde a realização de um evento na Aula Magna, promovido pela família Soares, cujos fundos reverteram para a AMI... Talvez M. Alegre tenha avançado tão depressa pelo conhecimento destes jogos de bastidores."
1-O BE anda a condicionar o partido de Alegre, para este apoiá-lo!
2 - Há vários portugueses que "encaixam" no perfil da tese.
3- A insinuação Soares/AMI/Nobre é vergonhosa, por isso deveria provar o que diz.

E por favor não compare a carreira/Vida de Fernando Nobre à de Alegre, este último poisou na AR há 35 anos, colaborando durante dezenas de anos com o sistema.

J disse...

Manuel Alegre tem o seu primeiro documento de propaganda em distribuição massiva nos próximos dias. A autoria é do Bloco de Esquerda, que mistura no habitual jornal gratuito (que os militantes distribuem nos centros das cidades e nas grandes empresas) a denúncia às políticas anti-sociais de Sócrates, e ao PEC, com a promoção do candidato que Sócrates apoiará.
Não clarifica, perturba a luta. É uma iniciativa aparentemente para consumo interno mas que será divulgada a centenas de milhar de portugueses, muitos dos quais são eleitores do Bloco, mas não são eleitores de Alegre.
Não havia necessidade, neste momento, de prosseguir uma campanha que vai de precipitação em precipitação. Tudo isto me recorda a novela Sá Fernandes, com os resultados que todos conhecemos e que muitos bloquistas, entre os quais me encontro, criticaram em tempo útil. Nessa altura como agora, a resposta foram adjectivos fortes. Veremos se agora, como então, o resultado será semelhante.

João Belgado - Braga

Mário Moniz disse...

Apoiado.

Mário Moniz-Aderente 3797
http://livrecomoovento.blogs.sapo.pt/

Edmundo Cadilha disse...

alguém se importa de deixar bem claro, mas muito bem claro, qual a definição de anti-capitalista?
teria muito gosto...

Edmundo Cadilha

Convenção Extraordinária disse...

Caro Edmundo, mais uma vez pedimos que, porque este é um Blog feito com militantes e para militantes do Bloco de Esquerda, se identifiquem com o número de aderente e a Concelhia (ou pelo, menos um deles). Obrigado.

Convenção Extraordinária disse...

Camarada João Delgado, publicános o teu comentário, apesar de teres trocado o D pelo B...
:)

João Pedro Freire disse...

Caro Edmundo Cadilha,

Eu que sou socialista sou também anti-capitalista. E, sendo assim, ser anti-capitalista é ser-se contra o actual modelo político e económico liberal e capitalista e propor-se buscar, lutar por um modelo GLOBAL socialista e alternativo. Dou particular relevo à procura de um modelo económico alternativo à dita "economia de mercado", já que parece que muita gente de esquerda abdicou de procurar essa alternativa. Esse modelo económico alternativo tem de buscar muito dos seus fundamentos na organização da economia social e numa organização económica que rejeita o estatismo, propondo, nos sectores estratégicos, empresas públicas socializadas, i.e. geridas democráticamente pelos trabalhadores.
Este é um tema que daria, só ele, para organizar um outro blogue.
João Pedro Freire
Matosinhos

Anónimo disse...

Camarada José Manuel Faria:

1-Há uma parte no meu texto que se refere à especial vocação do BE para promover e construir maiorias sociais em torno de valores... Não foi assim com o referendo à IVG? No casamento entre pessoas do mesmo sexo? Na luta pela manutenção pelo SNS que teve como primeiro signatário António Arnaut? Ajudar a eleger um PR que partilha os valores fundamnetais da esquerda não é construir maiorias sociais? Não é minha intenção ser "purista".

2-Dizer que existem vários portugueses com esse perfil é o manter a abstracção da tese da convenção que tantos camaradas criticam... Mas e nomes? E projecto? E disponibilidade? E possibilidades de vitória? Pois...

3-Camarada a prova do que disse sobre a AMI e a família Soares consta desta entrevista ao expressi... http://aeiou.expresso.pt/fernando-nobre-nao-vejo-o-que-impede-uma-coligacao-de-governo=f566445 . Insinuações não são muito comigo.

Nunca comparei o trajecto cívico de F.Nobre e M.Alegre... Se me pudesses dizer em que parte o fiz, agradecia. Mas mesmo nessa comparação, não me parece que o poeta/escritor M.Alegre ficasse a perder

Hugo Ferreira, 6444 Coimbra