quarta-feira, 24 de março de 2010

A palavra dos militantes (apontamentos publicados originalmente em posts no Facebook)

25 de Fevereiro

Está decidido, Fernando Nobre não contará com o meu voto. Depois de na apresentação da candidatura se ter recusado a posicionar-se politicamente como de direita, centro ou esquerda, agora o fundador da AMI vai mais longe, em entrevistas à SÁBADO e à VISÃO, assumindo-se como simpatizante da causa real.Para justificar esta simpatia, Nobre alega que Portugal tem 800 anos de monarquia e apenas 100 de república, numa argumentação que, levada ao extremo, poderá levar alguém a dizer que o nosso país também teve mais anos de ditadura salazarista do que tem de democracia de Abril. O que, sendo verdade, não estabelece valoração positiva do regime mais duradouro, como é evidente.Quanto à questão esquerda/direita, Nobre considera ser “um paradigma esgotado”, e por isso "não faz ideia se é de esquerda ou de direita".Temos, portanto, um candidato ansioso pela retribuição do apoio que deu a Sócrates nas legislativas (Alegre) e um monárquico, que se recusa a adiantar mais do que afirmar-se um “democrata, com preocupações sociais”. É obviamente muito curto para merecer o voto de quem acredita que, também nestas eleições presidenciais, é necessária uma voz clara da esquerda anti-capitalista.Bem sei que só se elege um presidente, e que o candidato vencedor terá de obter 50% + 1 dos votos expressos. Mas também sei que, com duas candidaturas a disputar o espaço político da esquerda, o máximo a que podemos aspirar neste momento é à mobilização de votos para obrigar a uma segunda volta com Cavaco Silva, a confirmar-se a recandidatura do actual presidente.Por estas razões, creio que mantém toda a pertinência a causa que subscrevo aqui no facebook, “Queremos uma candidatura da esquerda anti-capitalista nas presidenciais”. E por isso renovo o convite, a quem partilha estas ideias, para que subscreva ou, se fizer parte dos actuais 114 subscritores, que divulgue a causa na sua rede de amigos.Já anteriormente nos disseram que não havia alternativa a Alegre, não nos venham agora dizer que não podem existir mais candidatos. A esquerda consequente não pode estar nem com Sócrates, nem com a monarquia.

4 de Março

No Brasil o PSOL discute animadamente, em plenários de militantes, o seu candidato presidencial. A presidente do partido, Heloísa Helena, assume a defesa de um dos três pré-candidatos, frisando que fala como simples militante de base e não como presidente.Vale a pena ver os vídeos e reflectir sobre o exemplo do PSOL.(para quem não saiba o PSOL - Partido Socialismo e Liberdade - é uma dissidência à esquerda do PT de Lula; Heloísa foi candidata presidencial em 2006 com 6,85% dos votos, apoiada por uma Frente de Esquerda constituída pelo PSOL, o PSTU e o PCB; Michael Lowy, Noam Chomsky, Ken Loach, Olivier Besancenot, Daniel Bensaïd, Franco Turigliatto, James Petras, Alain Krivine e Francisco Louçã foram alguns dos apoiantes internacionais de Heloísa)http://tiny.cc/nzqbt

14 de Março

Estaria a democracia no Bloco a funcionar melhor se a Comissão Política se inibisse de divulgar uma nota, a dizer que recusa uma Convenção, como se tivesse legitimidade estatutária para tal. Recorde-se aos bloquistas que por aqui passam que, a conseguir-se a assinatura de 10% dos aderentes, isso obriga à realização da Convenção, independentemente da posição de discordância, legítima, da CP. Pode discordar, não pode recusar.As 3 sondagens presidenciais divulgadas este fim de semana confirmam que faltam votos à esquerda. Alegre na casa dos 20%, Nobre nos 10%, é muito pouco e dá uma vitória folgada a Cavaco na primeira volta. Falta ainda saber qual a posição final do PS. Falta ainda saber muito.

17 de Março

Manuel Alegre tem o seu primeiro documento de propaganda em distribuição massiva nos próximos dias. A autoria é do Bloco de Esquerda, que mistura no habitual jornal gratuito (que os militantes distribuem nos centros das cidades e nas grandes empresas) a denúncia às políticas anti-sociais de Sócrates, e ao PEC, com a promoção do candidato que Sócrates apoiará.Não clarifica, perturba a luta. É uma iniciativa aparentemente para consumo interno mas que será divulgada a centenas de milhar de portugueses, muitos dos quais são eleitores do Bloco, mas não são eleitores de Alegre.Não havia necessidade, neste momento, de prosseguir uma campanha que vai de precipitação em precipitação. Tudo isto me recorda a novela Sá Fernandes, com os resultados que todos conhecemos e que muitos bloquistas, entre os quais me encontro, criticaram em tempo útil. Nessa altura como agora, a resposta foram adjectivos fortes. Veremos se agora, como então, o resultado será semelhante.

João Delgado - 918 - Braga

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