quarta-feira, 24 de março de 2010

A palavra dos militantes :Por uma Convenção Extraordinária do Bloco de Esquerda: eu tenho uma proposta concreta a apresentar

O camarada Francisco Louçã não esteve bem quando, em Dezembro do ano passado, afirmou à TVI que o “melhor candidato” para uma convergência das esquerdas para as Presidenciais, era Manuel Alegre. Francisco Louçã é o coordenador da Comissão Política, é a “cara” do Bloco, e, uma declaração como aquela que fez, tem um efeito condicionador junto dos militantes e das estruturas bloquistas.

Até ao momento da declaração televisiva de Louçã, não tinha existido qualquer debate sobre este assunto no interior do Bloco. Como não houve, entre essas declarações e a decisão da Mesa Nacional que ratificou as declarações de Louçã.

O debate no interior do Bloco surge somente depois da decisão da Mesa Nacional e muito como consequência de um clima de contestação a essa decisão que foi surgindo um pouco por todo o espaço nacional onde existam militantes bloquistas. A partir daqui, a direcção política do BE sentiu-se obrigada a vir às estruturas distritais e concelhias “explicar” uma decisão que nunca tinha sido anteriormente debatida.

Todo este processo exibe a necessidade do lançamento de um debate conclusivo no interior do Bloco de Esquerda. Um debate ao qual tenham acesso todos os militantes, individualmente considerados. É visível, por exemplo, nos fóruns electrónicos, o nível de descontentamento de muitos militantes e a fome de debate sobre uma matéria que, à falta desse debate, pode provocar graves divisões e tensões no partido-movimento.

É por isto que é urgente encetar um processo de convocação de uma Convenção Nacional Extraordinária. Uma Convenção Nacional é, por excelência, o órgão máximo de representação de todos os militantes. Perante uma decisão do órgão máximo entre Convenções, a Mesa Nacional, que parece contestada por todo o lado, tem forçosamente de ser em sede de Convenção Nacional que se podem tirar conclusões vinculativas por e para todos os militantes.

Na fase da convocação de uma Convenção Nacional, não faz sentido apresentar propostas concretas de apoio a este ou aquele candidato presidencial. É tempo de se reunir o número necessário de militantes para, de acordo com os Estatutos, a Convenção Nacional ser exigível.

Uma vez convocada a Convenção Nacional Extraordinária, fará todo o sentido que surjam propostas, alternativas entre si, apelando a esta e aquela posição do Bloco face às Presidenciais. Sendo certo que, uma das posições que terá de ser discutida e submetida a votação, é a da direcção política de apoio a Manuel Alegre.

Pela minha parte respeitarei a decisão que a Convenção Nacional Extraordinária vier a tomar. Se sentir que essa decisão vai contra a minha posição individual, não perturbarei nunca, pela minha acção pessoal, aquela que é a posição colectiva do Bloco de Esquerda.

Pela minha parte, considero o apoio a Manuel Alegre uma decisão politicamente pouco de acordo com a decisão da última Convenção Nacional e, além do mais, muito pouco diferenciadora, desde um ponto de vista político e social, da acção do Bloco face ao governo do PS de José Sócrates. Manuel Alegre tem perante as próximas presidenciais, um posicionamento que tenderá a assumir-se como o candidato oficial do seu partido. Por exemplo, o actual posicionamento crítico de Alegre em relação ao PEC e ao OGE, tenderá a diluir-se e a desaparecer logo que a direcção do PS o confirme como o candidato oficial do partido do governo. A atitude de Alegre face ao seu partido é visível numa entrevista que deu em Janeiro último ao Expresso, na qual é notória a sua preocupação em recolher o apoio de José Sócrates.

Será dramático ver juntos numa mesma campanha presidencial a direcção do PS e a direcção do Bloco . Se não ao mesmo tempo em campanha, de certeza, então, numa “Comissão Política” e/ou numa “Comissão de Honra” do candidato …

Pela minha parte, contesto a decisão do apoio a Manuel Alegre, mas não fico sem proposta concreta sobre esta matéria. Proposta que submeterei à Convenção Nacional Extraordinária, se vier a ser convocada.

Pela perspectiva que defino, considero que, à esquerda, o pluralismo será a tónica com o aparecimento de várias candidaturas:

- Manuel Alegre

- Fernando Nobre

- Candidato do PCP

- Candidato do PCTP/ MRPP

- Outro candidato

Das candidaturas perspectivadas, parece-me que aquela que estará em melhores condições de provocar convergências sociais vencedoras face ao candidato da direita (Cavaco Silva ou outro) é a de Fernando Nobre.

Não considero que Fernando Nobre seja uma “solução soarista”, um “simpatizante monárquico” ou alguém que esteja “contra os partidos”. Isso são suposições e especulações lançadas por quem resolve entrar pelo caminho do “parece que é” como base para a sua acção…

Fernando Nobre ocupa muito do espaço que Manuel Alegre ocupou na última eleição presidencial. Manuel Alegre ocupa agora o espaço que Soares ocupou …

Fernando Nobre dirige-se, e bem, ao apelo a uma cidadania activa e consciente. Apela a uma presidência com opinião e sem estar de “braços cruzados”. Este eixo da sua candidatura é testemunhado pelo seu trajecto humanitário e de permanente contacto com os carenciados, em situações de extremo sofrimento, apoiado sempre por redes de voluntários.

Fernando Nobre não está refém do apoio de nenhum partido. Também já o disse que não é contra os partidos, os quais são uma das bases para a própria democracia. Embora não a única e exclusiva base. Há uma democracia participativa e directa que é preciso desenvolver, e, não são menores em relação à democracia representativa.

As suas posições sobre a distribuição da riqueza, sobre o OGE e o PEC estão espelhadas na sua critica a políticas económicas que assentam numa perspectiva de “privatização dos lucros e socialização dos prejuízos”.

Fernando Nobre terá a sua candidatura assente numa rede de voluntários, fora da acção dos partidos, embora muitos voluntários sejam militantes de partidos. Uma rede deste tipo é uma rede próxima do sentir dos movimentos sociais!

Estou convencido que os militantes do Bloco de Esquerda poderiam dar um excelente contributo a uma candidatura como a de Fernando Nobre e, certamente, estariam também a recolocar o nosso partido-movimento junto da acção dos movimentos sociais e das lutas sociais. Este é também um caminho para a construção de uma esquerda grande a partir da reorganização do espaço da esquerda socialista!

João Pedro Freire – Matosinhos

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