domingo, 28 de março de 2010

Francisco Louçã fala sobre as presidenciais em entrevista à TSF/DN

(aúdio completo aqui)

É na perspectiva da criação de um pólo da esquerda moderna que o BE avançou, não sei se extemporaneamente, para o apadrinhamento da candidatura de Manuel Alegre às presidenciais?

Não, nós não apadrinhámos. O Manuel Alegre disse e muito bem que não é candidato do BE, como não é candidato…

Mas é apoiado pelo BE.

Sim, mas é um candidato independente e suprapartidário…

Ou é um candidato apoiado por si, não pelo BE?

A decisão do BE é coerente desde sempre. Na convenção do BE, reveja o que o DN escreveu a esse respeito. Cá está: "Esquerda pode convergir no apoio a candidato a PR." Era exactamente o que se dizia, porque nós tínhamos a concepção clara de que - primeiro - era preciso um candidato de convergência e - segundo - que essa convergência já estava em caminho. E dizíamos nas resoluções da convenção com toda a clareza que Manuel Alegre tinha sido o protagonista dessa convergência.

Tendo em conta esses factos, como vê o pedido de militantes do BE para haver uma convenção que permita discutir novamente as eleições presidenciais?

Acho naturalíssimo. Na convenção havia duas correntes minoritárias: tiveram cerca de 20% dos votos, elegeram 17 membros da mesa nacional do Bloco. Quando votámos o apoio a Alegre, houve duas pessoas, duas dessas pessoas, que votaram contra.

E admite que se realize ainda este ano para discutir esse tema?

Ouvi os promotores dessa iniciativa constatarem que estavam longíssimo de ter qualquer apoio significativo que permitisse convocar a convenção.

Alegre tem estado um pouco mais apagado. Há quem diga que avançou cedo de mais, que ficou refém do apoio que pretende ter do PS e que isso o tem condicionado. Isso também tem alimentado essas críticas no interior do Bloco. Foi um erro Manuel Alegre ter avançado tão cedo?

Não, uma campanha que vai à luta não se esconde atrás de biombos, dá a sua cara e dá a cara por ideias. A força que a candidatura de Manuel Alegre tem é a de responder claramente sobre o PEC.

Numa perspectiva de esquerda, não foram tímidos os comentários que fez ao PEC, por exemplo?

Foram sobre os aspectos absolutamente essenciais. Criticou as privatizações, a política social, a política económica, e apontou as grandes ideias que devem mover uma candidatura presidencial.

Não acha que ele neste momento tem um espírito menos livre?

Acho que ele é cada vez mais livre. Demonstrou com o seu trajecto.

E Fernando Nobre, outro candidato que, aliás, já foi apoiante do Bloco, não é um candidato que possa colocar os militantes do BE perante a dúvida sobre quem apoiar?

Fernando Nobre tomou várias posições ao longo do tempo, é um homem corajoso. E tive muito gosto em que ele participasse numa campanha do BE. Nessa altura, não sabia ainda das suas inclinações monárquicas, mas devo dizer que é uma homenagem bonita à República que no seu 100.º aniversário um simpatizante da monarquia seja também candidato a Presidente da República. Mas os militantes do BE não se reconhecem de forma nenhuma num discurso que diz que a esquerda e a direita são iguais e indiferentes. Nós queremos alternativas claras.

Está aí uma resposta clara. Militantes do Bloco que pensassem em apoiar o Fernando Nobre?

Até agora só conheço um militante do BE que declarou apoio a Fernando Nobre - tem a opinião dele. Não creio que isso tenha muito significado.

Se tudo correr bem, o normal em política, lá o veremos em Janeiro no palco com José Sócrates a apoiar Manuel Alegre?

Nunca estarei ao lado de José Sócrates, em nenhuma política concreta.

Ao lado, fisicamente.

É que Manuel Alegre não depende de mim, como não depende de José Sócrates, tenha a certeza. Depende de si próprio, da sua própria palavra.

Mas se Alegre convidar Louçã e Sócrates para o mesmo dia?

São decisões que ele vai tomar. Mas não faço campanha com Governo, estou na oposição ao Governo.

(...)

Não sente que pela primeira vez, a propósito desta questão presidencial, a sua liderança está a ser questionada dentro do BE?

Meu caro amigo, houve 20% de votos nas listas alternativas dentro do BE, parece que não chegou a 3% o apelo para a convenção extraordinária. Acho que o BE está forte como nunca esteve! Aliás, a sondagem da TSF confirma-nos precisamente essa força e a realidade social é que a implantação do BE e a sua capacidade de resposta derivam de coerência política, de saber para onde vamos, ter os olhos fixados no que é decisivo. E o que é decisivo é vencer José Sócrates, vencer as políticas liberais, impedir o descalabro que as privatizações, o corte nestas políticas sobre a pobreza, representam para o País. O BE tem de ser uma força decisiva na política portuguesa porque tem de ser a força, tem de ter a grandeza de responder às grandes desigualdades e às grandes dificuldades do País.

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